Tuesday, March 13, 2012

STANLEY KUBRICK | LOLITA

Um professor de meia-idade que leciona em uma Universidade, se apaixona loucamente por uma ninfeta de 14 anos. Baseado no polêmico romance de VLADIMIR NABOKOV e dirigido por STANLEY KUBRICK (LARANJA MECÂNICA).
Foi necessário um remake ridículo e artificial do diretor ADRIAN LYNE (ATRAÇÃO FATAL/9 Semanas e meia de Amor) para que esta fita resistisse lindamente ao tempo. Respeito em número e grau esta primeira versão do aclamado, dispensa mais comentários, STANLEY KUBRICK (ainda jovem e em ascensão) em parceria com o produtor JAMES B. HARRIS (GLÓRIA FEITA DE SANGUE/O GRANDE GOLPE – também dirigidos por Kubrick), neste terceiro filme, Kubrick e Harris quebram tabus e causam furor na sociedade americana dos anos dourados, mesmo que o ano ainda fosse 1962. Convidam o próprio autor do livro VLADIMIR NABOKOV, acusado durante muitos anos por ter escrito uma prosa pornográfica (LOLITA chegou a ser banido em muitos países) para adaptar o roteiro (um dos poucos filmes de Kubrick em que o cineasta não escreve o script. Os outros também foram: Medo e Desejo [1953] e Spartacus [1960]) que conta a trama de um professor divorciado de meia-idade Humbert (JAMES MASON), que veio da Inglaterra para lecionar literatura na cidade de Ramsdale, New Hampshire (EUA). Ele procura uma casa na qual possa alugar por alguns meses e conhece a dona do local, uma mulher viúva e também de meia-idade Charlotte Haze (SHELLEY WINTERS). Depois de algum tempo, ele acaba se casando com Charlotte, porém, o motivo pelo qual casou é para poder ficar perto de uma ninfeta deslumbrante chamada Lo... LOLITA (SUE LYON). Esta moça é filha de Charlotte e responsável por fazer todos os homens (geralmente mais velhos) ficarem loucos por ela. Uma ninfa provocante, sensual e sarcástica. Além de muito inteligente, características que deixam sua pobre mãe, a viúva faminta e carente, desconcertada e enciumada por ela. A relação da filha, mãe e padrasto se torna cada vez mais perigosa, mas Kubrick suaviza tudo isso, deixa o seu filme mais nas entrelinhas e divertido. Ou seja, não há nenhuma cena de nudez sequer ou mesmo de sexo!

Nos fervorosos diálogos, percebemos todas as insinuações. Aliás, a fita não se permite ser vazia e clichê com cenas de transas calorosas , como na segunda versão.


Ainda na história aparece um sujeito louco, (também pela glamorosa LO). Ele é Clare Quilty, interpretado magistralmente pelo camaleão PETER SELLERS (A PANTERA COR-DE-ROSA) e que voltaria a trabalhar com o diretor em DR. FANTÁSTICO (1964). Sellers faz este sujeito, um malandro desonesto, que se envolveu com a garota antes de Humbert e que se disfarça de vários personagens para poder seguir Humbert quando esta com Lolita em algum Drive-In ou Motel. Dois gigantes em cena, Mason e Sellers, e a cada revisão fica ainda melhor de se assistir.

Kubrick começa o seu filme de uma maneira incomum à época, colocando o final da trama logo no começo e depois o desenrolar que chega ao ponto de partida. Um artifício que muitos acham que foi Quentin Tarantino que inventou com a cena da lanchonete em PULP FICTION.

É marca registrada de Kubrick lhe permitir fazer auto-referência (como na loja de discos em Laranja Mecânica com a capa do vinil de 2001), aqui há uma fala de Sellers brincando com o personagem de Mason , dizendo que é SPARTACUS [fita de Kubrick de 1960] (“Sou Spartacus! Eu estou aqui para libertar os escravos?”). A cena se passa em uma mansão bagunçada e vemos um bêbado decadente e um louco decadente lhe apontando uma arma. Ambos foram vencidos por LOLITA. Humbert vai acertar as contas com Quilty e a cena do tiro no retrato da morte é um momento antológico. Outra cena inesquecível é quando Humbert vê Lolita pela primeira vez (o que fez com que ele decidisse alugar um cômodo na casa de Charlotte), a adolescente esta tomando sol no jardim, seminua e nada inocente. Esta imagem, este plano extraordinário, marcou o imaginário de gerações que assistiram ao filme. Só com esta fotografia de Lo, o filme de Kubrick impõe respeito.

Kubrick voltou a explorar o tema da obsessão sexual, de certa maneira, em DE OLHOS BEM FECHADOS (seu canto do cisne), mas 37 anos atrás, ele teve que usar uma linguagem mais profunda, humorada, leve e subliminar, idêntica a própria obra de Nabokov. Assim, para ter essa fórmula, ele convidou o autor, que mais conhece a sua história, para transformar a escrita em imagem.

E o que dizer da fantástica Shelley Winters como Charlotte? Uma atriz estupenda (lembra muito HELEN HUNT, esteticamente falando). Ela tem as melhores falas e é a personagem mais carente, que nega ser mãe daquela menina com nome lírico e melodioso. Uma vítima da conveniência de um casamento com um homem iludido de amor e obcecado por uma garota quente como pimenta e que ao mesmo tempo, é carente de mãe e pai. SUE LYON sumiu do cinema, seu último filme foi uma participação no trash de 1980 – ALLIGATOR, o Jacaré Gigante (clássico das sessões da tarde). Embora tenha feito alguns cults como A NOITE DO IGUANA (1964) e SETE MULHERES (1966) foi LOLITA que marcou sua carreira. O papel principal também foi oferecido para TUESDAY WELD e MARLON BRANDO foi chamado para interpretar o professor.



LOLITA, um nome adorável, um diminutivo poético, segundo Quilty. Em um filme sensual, provocante, escandaloso e que não precisa do óbvio explícito. Basta um plano Kubrikiano, um olhar e um sorriso naquele belo celulóide em preto e branco.
A música “YA YA”, composta por Nelson Riddle (do grupo de rock dos anos 50-60 The Ventures) marcou neste filme e se tornou um clássico hit, também na voz de Sue Lyon na versão “Lolita Ya-Ya”.
Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e venceu o Globo de Ouro, a revelação Sue!

Como eles sempre fazem um filme de Lolita?
Kubrick se foi para responder esta pergunta.


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EUA – 1962
DRAMA/ROMANCE
WIDESCREEN
153 min.
P&B
18 ANOS
WARNER
✩✩✩✩✩ EXCELENTE
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