Saturday, March 17, 2012

JOHN CAMERON MITCHELL | SHORTBUS


Um grupo de nova-iorquinos se reúnem em um salão underground subterrâneo chamado “Shortbus” para orgias sexuais, arte, música e política.


Esta fita do jovem cineasta JOHN CAMERON MITCHELL que fez um filme chamado HEDWIG –ROCK, AMOR E TRAIÇÃO [2001] (na qual também foi ator), sobre uma garota punck rock transexual de Berlin Oriental que viaja com sua banda de rock para os EUA enquanto ela conta a sua trajetória de vida e do ex-namorado que roubou as suas canções, etc., era um filme até regular. É de Mitchell também a volta triunfante de NICOLE KIDMAN no pequeno RABBIT HOLE (recente produção indicada ao Oscar de atriz – “Reencontrando a Felicidade”), mas nada se compara a esta fita que passou até em Cannes e em outros Festivais de cinema contemplados. Com cenas de sexo explícito (mas também sem muitos planos ginecológicos) o filme pode causar repúdio total a algumas pessoas por acharem chocante demais e ou/ desnecessário para outros mais entendidos, que não se chocam com sexo de verdade nu e cru. Eu pertenço ao grupo do “nem fede e nem cheira”. O filme é até “funny” com as cenas “fuck”, mas está longe de ser um filhote de TINTO BRASS, cult diretor italiano que realizou fitas soft-porn como o clássico CALÍGULA (com Malcolm McDowell e grande elenco de estrelas – apesar da fita de 1979 ser uma produção de Gore Vidal e direção de atores realizada por Bob Guccione e Giancarlo Lui e Bras tendo feito apenas a fotografia principal). Ou de outros trabalhos “pornôs com história” do mesmo diretor: MONELLA, A TRAVESSA (1998) ou TODAS AS MULHERES FAZEM (1992) e o até recente LUXÚRIA (2002).

SHORTBUS poderia ser mais interessante com este sexo todo, sem atalhos e verdadeiro, se tivesse uma premissa mais envolvente e não se ligasse apenas na comédia, quase pastelão de tão absurda e no melodrama vazio. As duas coisas chegam ao extremo da irritação. O filme oscila no gozo contando a história de um grupo de pessoas da cidade de Nova York (pós 11 de setembro, ao que parece [risos]) que se reúnem em um clube exclusivo chamado Shorbus (é mesmo um “busão” apertado com muita “pegação”) para trabalhar [mais risos] as suas relações, problemas sexuais, vivendo novas experiências, e sempre das mais bizarras. É tão irônico que uma terapeuta sexual, a oriental sino-canadense SOOK-YIN LEE (que vive Sofia) não consegue ter um orgasmo, mesmo sendo perita no assunto e tendo transado aparentemente de todas as formas e posições com o marido (RAPHAEL BARKER) que obviamente fica frustrado achando que o problema é com ele e o seu pênis. Esta terapeuta atende um casal homossexual em que um deles, James (PAUL DAWSON – já no início do filme totalmente nu em uma banheira, sofrendo) esta em crise existencial e o parceiro, até simpático e fofo, Jamie (PJ DeBoy) um cara romântico e disposto a ajudar o parceiro, faz de tudo para manter o relacionamento aberto com outras pessoas – aberto para o sexo mesmo! Têm também a história de uma dominadora sexual sado-masoquista, Severin (LINDSAY BEAMISH) carente de afeto, namorado, romance e até um sexo normal (dentro dos padrões clássicos papai e mamãe). É também sobre um voyeur (PETER STICKIES) que espia James e Jamie e sabe da vida alheia de ambos, mantendo uma relação super esquisita à la James Stewart (do clássico de Hitch Janela Indiscreta) e um gay carinhoso e passivo ( vivido por JAY BRANNAN que entra na relação sexual do casal gay acima). É todo este povo que se mistura loucamente neste clube particular em que uma banda com nome muito bacana “Bitch”, toca toda a noite enquanto todo mundo esta trepando. Tem até um velinho (ALLAN MANDELL) que é amigo de todo mundo lá, um ex-prefeito aidético. Ele só observa. O dono do clube é o próprio JUSTIN BOND, um gay bastante excêntrico.


O filme já começa com transas e caretas, a dominatrix batendo em um cliente rico que se masturba e jorra sêmen em um quadro repleto de cores abstratas que se misturam com o esperma, o rapaz gay enamorado e infeliz que pratica sexo oral em si mesmo e grava tudo (descobrimos depois que ele esta editando um filme caseiro para o namorado) e a terapeuta, fingindo orgasmos depois de várias posições com o marido e mentindo para ele sobre uma cliente (na verdade ela) que nunca teve prazer vaginal.


Mesmo com um roteiro irregular, Shortbus possui uma direção de arte caprichada e vários ambientes ( a estátua da liberdade apresentada de um jeito sexy após a titulagem principal), a cidade representada por maquete, usando efeitos de transições temporais,um salão de shows com apresentações burlescas (apela também mais para o universo gay masculino) e uma banda com vocalistas e músicos dos mais diferentes. O salão de sexo tem até uma fotografia boa, em que as pessoas estão fazendo sexo, se liberando em travesseiros e colchões e lá, vários voyeurs observam a orgia. Alguns para se inspirarem em alguma escrita e ou/ leitura e outros para estimulação sexual (mas no fim é só para realizar seu fetiche) este elenco é figuração e não tem um drama a contar.
Também há um quarto só para mulheres lésbicas, que discutem as suas relações e frustrações (quase não há muitas cenas homossexual feminino). O local, ao menos, é cercado de arte. As pessoas assistem a documentários (um sobre Gertrude Stein em exibição), vídeoarte e várias outras coisas até broxantes.

A trilha musical é bem interessante, eu gosto. Toca várias músicas do folk e jazz e um pouco de rock. Isso ajuda em uma sessão que pode chegar a irritação com uma terapeuta que não consegue chegar ao clímax e vai ficando louca, usa um vibrador oval e sai dando porrada quando o marido acidentalmente mexe no controle remoto. Ou pior, o gay vazio que sofre e quer cometer suicídio, mesmo com um namorado super legal e mente aberta. Não gostei nem um pouco da caracterização e construção do perfil psicológico dos personagens, embora o filme tenha atores bonitos e até talentosos, não sabemos se estamos vendo algo interessante ou forçado. Interessante pela construção técnica e artística do filme e forçado nas condições dos personagens que culmina em “ejaculações escandalosas”.

Tudo bem é engraçado ver um ménage a trois gay em que o trio começa a cantar o hino nacional americano enquanto praticam sexo oral uns nos outros (o pênis de um vira microfone e o ânus do outro auto-falante) ou quando a terapeuta esta numa floresta procurando um local para se masturbar. Os efeitos digressivos deixam a narrativa óbvia demais, e aqui o filme debocha e despenca.
Não vão assistir pensando que irá ter uma sessão privé-chique com Sylvia Kristel (da série Emmanuelle - das noites quentes do canal Bandeirantes), Shortbus é uma comédia dramática “XXX” com estilo mais explícito que caberia no canal Showtime que adora polemizar. De qualquer forma, o filme estreou em festivais especializados (passou até na Virada Cultural de São Paulo) e não foi direto para vídeo. Mitchell conseguiu levar seu filme a um "status", sem modéstia de grandeza, o que acho justo. É bom que num filme como este, democraticamente falando, esteve em competição. Ele não é uma porcaria, mas também não é obra prima.
De certa forma compactuo da afirmação de Mitchell quanto a pornografia no cinema (aqui vista assim) quando diz: “O sexo foi desvalorizado com a pornografia”. Ou seja, os filmes pornôs são fabricados para estimular as pessoas para o sexo e ponto (direto ao assunto um entregador de pizza não tem diálogo quando faz a entrega no apartamento de uma gostosa que também não fala) e o cinema de manipular pela antiga técnica e linguagem do filme (quando Michael Douglas esta transando na pia com Glenn Close em ATRAÇÃO FATAL) e aqui ele tentou (não conseguiu) ligar as duas coisas, isto é, o sexo filmado com seriedade envolto de uma manipulação mais profunda e emocional com os personagens. Na verdade eu perco o tempo dando risada e até ficando um pouco excitado quando vejo esta fita. Não me envolvo mais dramaticamente como o faço em sessões mais célebres. Por exemplo, a fita com a espanhola PAZ VEGA: “Lúcia e o Sexo” (2001 – me excita mais e me envolve muito mais!)

Tudo aqui é meio bobinho apesar de uma veia artística por parte do diretor.



Se caso SHORTBUS não lhe servir para nada, ao menos se masturbe!

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EUA- 2006

COMÉDIA DRAMÁTICA
101 min.
COR
FULLSCREEN
18 ANOS
Disponível em DVD pelo Filmes Da Mostra (Brasil)
Canadá/EUA pela TRINK FILM
✩✩ REGULAR
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