Monday, October 26, 2009

OPIUM by Yves Saint Laurent

"Chover no molhado".
Já disse e ouvi esta expressão várias vezes.
Falar de Opium pode ser considerado uma repetição inútil para os que conhecem um pouquinho de perfumaria.
Entretanto conheci Opium de forma "leiga" há décadas, e como aficionada pela perfumaria há pouquíssimos anos.
A maneira de ver muda um pouco, apesar de continuar opinando que é um grande clássico.
Se antes eu gostava sem me deter no porquê, hoje procuro desvendar notas e acordes.
Inegavelmente bom.
Intenso, marcante quase exacerbado, e... soberbo.

Ícone em época de transformações que ocorriam pelo mundo, com maior ou menor intensidade, dependendo de onde se vivia.
Quando Opium nasceu minha cidade era provinciana, quase vitoriana.
As mudanças radicais corriam livre, apenas para uma parte mais rebelde e boêmia, que constituia tribo exótica e curiosa: Intelectuais ou artistas e algumas rebeldes "ovelhas -negras".
Ouvíamos as músicas que rolavam no mundo, líamos, víamos os grandes filmes ( com algum atraso), curtíamos muita "fossa", entretanto aquele universo contestador, embriagador, alucinado e visionário, que seguiu o movimento hippie, passava ao largo.
População conservadora e discreta na qual éramos meninas e rapazes educados, comuns, considerados de" boa família" - não rica, boa - que frequentavam festas de garagem, bebiam no máximo cuba libre, comendo coxinhas e canapés, ao som de Johnny Rivers.
Burguesia inócua.
Cannabis era assustadora para a maioria e o símbolo de transgressão para um pequeno grupo .

Neste contexto quase inocente, conheci o perfume YSL, numa festa, na penteadeira de uma anfitriã, obviamente contestadora, pois outros ali presente eram: Café e Dune.
Exigiam audácia, numa sociedade de meninas que adoravam Anais Anais, Caleche e Calandre, florais e aldeídicos, a marca do chamado "perfume francês".
Senti a potência, a sedução assustadora para minha imaturidade olfativa, e apesar de atraída não ousei.
Sei o que me agradou e continua encantando!
Abre-se numa explosão de canela, vários tipos de pimentas (malagueta, do reino) e laranja que resultam numa impressão fortíssima especiada e doce, onde o cítrico deve abrandar, mas pouco se faz sentir.
Assinatura totalmente oriental, representando o exotismo da terra dos mandarins.
Em seguida nos assalta o acento animalic morno, envolvente, onde podemos vislumbrar madeiras terrosas, adocicadas e cistus .
Flores em bouquet submerso na canela, tão mesclada ao odor de cravos que é difícil distinguir onde um começa e o outro termina.
Percebemos o aroma e a doçura de um jardim sem destaques, ou prima donna .
Nota pungente emana do fundo, traços ínfimos de terebintina, ou similar, própria das gum-resins e dos óleos incensados como benjoim. Apresenta-se acompanhada pelo fugaz e acre amargor de patchuli e vetiver
Conjunto que pooderia ser extremamente aromático e masculino se não fosse a generosidade da baunilha com seu acento leitoso de coconut.

Espalhando sensualidade, arredondando contornos, traz uma suavidade profusa e melífera que beira o exagero.
Opium, que nasceu na trilha oriental de Tabu by Dana e espalhou infindáveis descendentes mundo afora é extremado na sua riqueza de componentes evolutivos .
Causou-me susto e fascínio décadas atrás, e hoje quando borrifo, ainda prendo a respiração, como se pudesse imprimir a rica composição ao olfato desvendando mistérios insondáveis.
Contudo, Opium não é frequente no meu repertório, pois tenho um desafeto com algumas variações desta dama chamada baunilha...

Fotos: Campanhas publicitárias de Opium-Yves Saint Laurent

COMENTÁRIO VIP

GOSTO

Eu gosto!
Se Dior tem seu veneno em Poison, Yves Saint Laurent o tem em Opium.
Semi-ambarado, floral, Opium mereceria o título de rei dos orientais. Shalimar seria sua rainha.
Uma composição exótica e andrógina de pimentas, cravo, jasmim, baunilha e resinas.
Opium marcou época.
Inesquecível é a propaganda onde se vê uma mulher comprando drogas num mercado chinês- óbviamente a "droga" é o perfume.
Polêmico e proibido em vários países devido a seu nome, garantiu lugar como um clássico da perfumaria.
Obrigatório em qualquer coleção.
ISRAEL SANZIO


Família Olfativa
: Oriental especiado, 1977
Gênero: Feminino
Perfumista: Jean Amic e Jean-Louis Sieuzac
Pirâmide Olfativa:
JEAN AMIC
Nez responsável pelos seguintes perfumes YSL: Opium, Opium Collector Edition 2008 - for her, Y for her; Opium Collectior Edition 2008 for her - YSL.

JEAN=LOUIS SIEUZAC
Criador dos seguintes perfumes: Dune for her - Dior; Fahrenheit for him - Dior; Oscar de La Renta for Her; Opium for her -YSL


REBELDIA
" Julgamos exercer uma pequenina vingança contra a autoridade fazendo secretamente o que esta proibe". JEAN CARITAT- Marquês de Condorcet

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